“Se os britânicos, ao verem o fracasso da política de apaziguamento, dissessem: ‘deem-nos um Chamberlain melhorado’, estariam ferrados. […] A forma antiga não funcionava mais, insistir teria sido desastroso. Pra combater Hitler, precisavam de um inconformista como Churchill”
Esta livre tradução de uma passagem do livro “Barking Up The Wrong Tree” (Latindo Para a Árvore Errada), de Eric Barker, sobre a passagem de governo no Reino Unido durante a Segunda Guerra entre o “apaziguador” Neville Chamberlain e o arredio Winston Churchiil também nos diz respeito. Diante da maior crise econômica e moral de nossa história, o brasileiro rejeitou o “Chamberlain melhorado” e escolheu quem representasse a quebra do velho modelo político.
A obra de Barker busca desconstruir os chavões que repetimos sobre sucesso e poder apontando como muitas vezes não agir “by the book” (pelos padrões) é o que separa líderes medianos de grandes estadistas. Ele diz: “Muito comumente eles acabam por quebrar as coisas, mas às vezes ‘quebrar as coisas’ pode significar acabar com a escravidão, como fez Abraham Lincoln.”
Como é de consenso, Bolsonaro não faz política “by the book”. Duas características que o distinguem são apontadas pelo livro como de grande influência para o sucesso de um “líder não-filtrado”, como define o autor: a sua obstinação em perseguir de forma autêntica e contra a maré o seu objetivo; a sua liberdade em trabalhar por sua meta sem se preocupar em trilhar o caminho padrão.
“Este tipo não ascende pelos rankings; eles entram pela janela: empreendedores que não esperam que ninguém os promova […] líderes que enxergam a oportunidade em uma tempestade perfeita ou em um eventos extraordinários”. A população brasileira não escolheu o melhor da turma. Não escolheu seu principal orador. Escolheu aquele que se mostrou mais original e verdadeiro na proposta de mudar “tudo que está aí”.
Barker aponta um estudo do Boston College que acompanhou a vida de 81 americanos destaques em suas classes no ensino médio. Embora a maioria acabe bem sucedida, nenhum transformou essa reputação em algo consistente que fizesse alguma diferença no mundo, ou mesmo no seu meio. “A escola tem regras claras. A vida, quase sempre, não. Quando não há um padrão claro a seguir, os alunos-destaque não prosperam”.
O establishment estava a latir para a árvore errada. Essa expressão inglesa diz respeito a cães de caça enganados pela presa que escapa entre galhos. Enquanto todos apostavam na árvore tradicional, o “líder não-filtrado” soube ouvir e traduzir o anseio popular.
“Eles tomam decisões inesperadas e são com frequência imprevisíveis. Ainda assim, trazem mudança e fazem a diferença. Estes são os líderes que a pesquisa indica que têm uma enorme chance de trazer impacto positivo”.
Artigo originalmente publicado no jornal A Tarde do dia 27/11/2018