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É preciso diferenciar narrativa e fatos sobre o Chile, analisa Elmar Nascimento

É com tristeza e apreensão que acompanhamos os acontecimentos recentes no Chile. Os protestos, que aparentemente tiveram como gatilho o aumento nos preços da passagem do metrô de Santiago, adquiriram uma dinâmica violenta, com o registro de diversas vítimas fatais.

Infelizmente, como tem ocorrido com frequência em nosso país, alguns mal-intencionados se aproveitam do sofrimento alheio para tirar proveito político. Diante do caos que tomou as ruas chilenas, a esquerda brasileira optou por uma narrativa propositadamente equivocada, ligando os acontecimentos no Chile às políticas liberais por lá adotadas, e traçando, é claro, um paralelo com o receituário econômico escolhido pelo atual governo brasileiro.

Antes de mais nada, é importante fazer algumas ressalvas. O Chile, de fato, teve uma experiência liberal. Entretanto, nos anos mais recentes, aquele país esteve mais próximo de uma esquerda social-democrata. A ex-presidente Michelle Bachelet personifica bem essa fase, cuja duração não é desprezível. De outro lado, trata-se de um erro dizer que a política econômica do governo brasileiro atual é liberal. Isso porque há uma grande distância entre as convicções e desejos do ministro da Economia e as ações efetivamente adotadas pelo governo até agora.

Dito isso, vejamos se o oportunismo da esquerda brasileira encontra algum respaldo na realidade. Frases como “o povo chileno está se levantando contra os efeitos do neoliberalismo” e “trabalhadores chilenos se insurgem contra desigualdade social” podem ser encontradas facilmente nas páginas do PT, Psol e assemelhados. Afirmam também, em tom de alerta, que o Brasil caminha para ser o Chile de amanhã.

Começando por um indicador de riqueza, vale traçar um comparativo entre o PIB per capita chileno e o nosso. PIB per capita nada mais é que a soma de todos os bens e serviços finais produzidos por um país, num dado período, dividida pelo número de habitantes. Pois bem, de acordo com o dado mais recente do Banco Mundial, de 2018, o PIB per capita chileno é 80% maior que o nosso. Isso mesmo, quase o dobro! Em dólares correntes, eram US$15.923 contra US$8.920 aqui no Brasil.

Mas pode-se argumentar que esse dado não diz muito, pois a riqueza no Chile pode ser mal distribuída. Aí entramos no quesito distribuição de renda. Via de regra, países latino americanos figuram muito mal nesse aspecto. Isso vale para o Brasil e também para o Chile. Ocorre que a distribuição de renda brasileira é pior. Tomando-se por base um dos mais utilizados indicadores de distribuição de renda, o Índice de Gini, desenvolvido no começo do século XX pelo estatístico italiano Corrado Gini, vê-se que, para 2017, o Banco Mundial informa Gini de 0,53 para o Brasil e 0,46 para o Chile. Como esse coeficiente varia entre 0 e 1, com 0 representando a igualdade perfeita, conclui-se que no Chile a riqueza é melhor distribuída que em nossas terras.

Ainda, para atender a quem argumenta que dinheiro não é tudo, pois não é somente ele que nos traz qualidade de vida, comparemos um dado que contemple esse ponto. Um dos mais recorrentes é a expectativa de vida ao nascer. No Brasil, estamos nos aproximando dos 76 anos. O Chile, por sua vez, já bate nos 80 anos.

Nesse contexto, observa-se que a situação econômica e social do Chile é superior à nossa. Assim, em resposta ao alerta acima mencionado, não seria propriamente um mal negócio se amanhã nos tornássemos o Chile. Trata-se, obviamente, de uma alegoria, mas é importante contrapor os argumentos falaciosos da esquerda, que governou o Brasil por 13 anos, deixando uma crise enorme que fez piorar, inclusive, nossos indicadores de renda e desigualdade.

Por fim, não poderia concluir esta análise sem falar de previdência. Faço isso porque acaba de sair o texto da reforma que será promulgado nos próximos dias e também por guardar relação com toda essa ‘lacração’ da esquerda em torno dos problemas enfrentados pelo Chile. Trata-se de uma das mais importantes reformas já feitas no Brasil. Necessária, ainda que não suficiente, para garantir equilíbrio nas contas públicas, tão maltratadas pelos governos petistas. É, sem dúvida, uma mudança inescapável, determinada pela demografia, pela necessidade de se eliminar privilégios e pelo fato de gastarmos mais com previdência do que países já envelhecidos e ricos como Alemanha e Japão.

Nesse tema, achei no mínimo curioso o texto que se segue, estampado nas redes sociais de uma deputada do Psol: “A reforma da previdência foi definitivamente aprovada no Congresso. O texto de Guedes e Bolsonaro se baseou na previdência do Chile, país que está em convulsão social por conta desse modelo perverso. Que nos sirva de inspiração a luta do povo chileno. A rebelião vai chegar aqui”. É equivocada essa comparação entre os modelos de previdência adotados por ambos os países. A parlamentar não deve saber, mas a nossa reforma foi aprovada sem a previsão de um sistema de capitalização, que é a base da previdência chilena. Uma vez informada disso, talvez repense sua opinião a respeito da Nova Previdência. Uma pena que o voto já não é mais possível mudar.

Artigo do deputado Elmar Nascimento, Líder do Democratas na Câmara dos Deputados, originalmente publicado em Poder360 – 31/10/2019